Sinais Silenciosos de Doença Cardíaca em Gatos: O Papel da Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH)
28 Maio 2025

A cardiomiopatia hipertrófica felina (CMH) é a doença cardíaca mais comum nos gatos. É frequentemente subclínica, dificultando o diagnóstico precoce. Gatos com CMH podem parecer saudáveis por longos períodos, mascarando alterações cardíacas progressivas.
Por isso, reconhecer sinais silenciosos e compreender os critérios para rastreio precoce é essencial na prática clínica veterinária.
Como é que a CMH se desenvolve nos gatos?
A CMH é caracterizada por hipertrofia do ventrículo esquerdo.. Esta alteração impede o enchimento normal do coração, levando à disfunção diastólica.
Principais consequências da CMH
● Aumento da pressão no átrio esquerdo
● Risco de congestão pulmonar e derrame pleural
● Potencial para tromboembolismo aórtico felino (ATE)
● Evolução para insuficiência cardíaca congestiva (ICC)
Segundo estudo científico levado a cabo por Payne e seus colaboradores, em 2015, a CMH pode estar presente em até 15% dos gatos aparentemente saudáveis. Este dado reforça a necessidade de maior vigilância clínica por parte dos veterinários.
Sinais clínicos silenciosos da CMH em gatos
A apresentação clínica da CMH pode ser ausente ou inespecífica. Os gatos não demonstram frequentemente sintomas até fases avançadas.
Sinais de alerta mais comuns
● Frequência respiratória discretamente aumentada em repouso ou esforço respiratório
● Diminuição da tolerância ao exercício ou letargia
● Sopro cardíaco ou ritmo de galope à auscultação
● Temperatura ou perfusão reduzida em membros posteriores ou mesmo paraplegia (sugestivo de ATE)
Muitos destes sinais só surgem tardiamente. O exame ecocardiográfico é muitas vezes a única oportunidade de deteção precoce.
Quando suspeitar e quando rastrear
A decisão de avançar para exames complementares deve basear-se na combinação de fatores clínicos e de risco genético.
Circunstâncias que justificam avaliação cardíaca
● Raças predispostas (Maine Coon, Ragdoll, Persa, Scottish, British, Sphynx, Bosque da Noruega)
● Presença de sopro ou ritmo de galope, mesmo em animais assintomáticos
● História de síncope, dispneia ou taquipneia
● Alterações em exames de sangue (ex.: NT-proBNP elevado)
Conforme um estudo científico realizado por Fox e seus colegas, em 2018, a ecocardiografia continua a ser o exame de eleição para diagnóstico da CMH, com elevada sensibilidade para alterações morfológicas iniciais.
Exames indicados para diagnóstico precoce
A avaliação cardíaca em gatos com suspeita de CMH deve ser completa e adaptada ao quadro clínico. A ecocardiografia continua a ser o exame central para o diagnóstico desta patologia, permitindo avaliar tanto alterações estruturais como funcionais.
Achados ecocardiográficos típicos da CMH
● Hipertrofia da parede do ventrículo esquerdo (VE) em diástole acima de 6 mm (pode ter padrão focal, simétrico ou assimétrico)
● Presença de SAM/CAM (movimento sistólico anterior da válvula mitral ou de corda tendinea)
● Obstrução dinâmica do trato de saída do VE
● Átrio esquerdo dilatado com função sistólica reduzida
● Evidência de disfunção diastólica (como por exemplo alteração dos fluxos transmitrais)
Estes achados estão bem documentados na literatura e são cruciais para o estadiamento da doença.
Exames complementares recomendados
● Eletrocardiograma (ECG) – deteção de arritmias ventriculares ou supraventriculares
● Pressão arterial sistémica – essencial para excluir hipertensão como causa da hipertrofia
● Despiste de outras doenças sistémicas como hipertiroidismo - como causa da hipertofia
● Radiografia torácica – útil na avaliação de edema pulmonar, ou presença de efusão pleural
● Biomarcadores cardíacos (NT-proBNP, troponina I) – úteis na diferenciação entre causas respiratórias e cardíacas em contexto de urgência
A associação de dados clínicos, ecográficos e laboratoriais permite uma abordagem multidimensional, essencial para o diagnóstico preciso e prognóstico individualizado mais ajustado a cada caso clínico.
Conclusão sobre os sinais silenciosos da CMH
A cardiomiopatia hipertrófica felina é silenciosa, mas potencialmente fatal.
O reconhecimento de sinais subtis, aliado ao rastreio nas raças predispostas, pode salvar vidas.
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