Limitações da VHS em Cães: Porque a Silhueta Não Diz Tudo Sobre o Coração

Saiba por que a VHS pode falhar na avaliação cardíaca em cães. Conheça os limites deste índice e quando referenciar. Aposte em diagnósticos especializados.
21 Abril 2025
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A radiografia torácica é uma ferramenta comum na triagem inicial de alterações cardíacas em cães. Um dos índices mais utilizados nesta avaliação é o VHS – Vertebral Heart Scale, que permite estimar o tamanho do coração em relação à coluna torácica. No entanto, apesar da sua utilidade prática, este índice tem limitações importantes, sobretudo em cães de diferentes raças, conformações torácicas e em fases iniciais de doença cardíaca.

O que é a VHS, como é calculada e suas limitações

A VHS consiste na medição do comprimento e largura do coração numa radiografia torácica lateral, somadas em número de corpos vertebrais. Este valor é comparado a uma escala de referência para estimar cardiomegalia. Considera-se normal um valor inferior a 10,5 e suspeito um valor acima de 11,5 ou um aumento superior a 0,5 em 6 meses.

Antes de considerar a VHS como ferramenta diagnóstica isolada, é fundamental compreender que esta mede apenas o tamanho cardíaco aparente e não traduz diretamente a função ou a gravidade da patologia.
Em muitos casos, os sinais clínicos são subtis ou ausentes, e alterações estruturais precoces não provocam aumentos visíveis na radiografia. É por isso que, em casos de suspeita clínica ou sopro auscultado, o passo seguinte deve ser uma consulta de cardiologia com exames especializados.

As limitações da VHS na prática clínica veterinária

Apesar da sua popularidade, a VHS deve ser interpretada com cautela e sempre integrada no contexto clínico do paciente. A confiança exclusiva neste índice pode levar a subdiagnósticos, especialmente em fases iniciais da doença cardíaca ou em pacientes assintomáticos.

Entender as limitações associadas à sua aplicação é fundamental para evitar interpretações erróneas e atrasos na referenciação para exames mais completos. Tais limitações passam por:

1. Sensibilidade reduzida em fases iniciais
A VHS pode estar dentro dos valores normais mesmo em cães com doença valvular mitral em fase B1, levando a um falso sentido de segurança clínica.

2. Influência da conformação torácica
Raças como Bulldogs, Dachshunds e Galgos têm tipicamente corações mais globosos/maiores comparativamente às vértebras levando a um VHS acima (até 14) do que seria de esperar noutras raças.

3. Não avalia a função cardíaca
A VHS apenas estima o tamanho cardíaco. Não fornece informação sobre função sistólica, pressões intracavitárias ou presença de regurgitações valvulares.

4. Incapacidade de diferenciar causas
Um aumento de VHS pode dever-se a cardiomiopatia, sobrecarga de volume ou outras patologias. A radiografia não permite distinguir.

5. Variabilidade por gordura pericárdica
A presença de gordura pericárdica pode alterar artificialmente a medição da VHS, especialmente em cães com obesidade ou idade avançada.

A identificação das limitações da VHS reforça a importância de uma avaliação mais abrangente em casos suspeitos. A radiografia pode levantar a suspeita inicial, mas a confirmação diagnóstica e a classificação da gravidade da doença dependem de exames avançados.
A consulta de cardiologia com recurso à ecocardiografia e eletrocardiograma permite tomar decisões terapêuticas mais seguras e atempadas.

Quando e por que referenciar uma consulta de cardiologia mesmo tendo realizado o VHS?

O momento certo para encaminhar um caso para avaliação cardíaca especializada nem sempre é evidente. No entanto, a presença de sinais clínicos compatíveis com doença cardíaca, mesmo quando a VHS é inconclusiva ou aparentemente normal, deve levantar suspeitas. A referenciação permite obter uma avaliação funcional aprofundada e identificar alterações que podem não ser visíveis em exames convencionais.

A consulta de cardiologia deve ser considerada em cães com:

Sopro cardíaco, mesmo com VHS normal
Tosse noturna ou em excitação
Cansaço ou intolerância ao exercício
Dispneia, síncope ou colapso
Bradicardia, arritmias ou pulso irregular
Cardiomegalia radiográfica

Também é indicada em:

Avaliações pré-anestésicos, especialmente a partir dos 7 anos
Doenças sistémicas como hipotiroidismo, diabetes mellitus, hipertensão, dirofilariose ou doença respiratória crónica
Cães sob quimioterapia cardiotóxica (ex.: doxorrubicina)
Rastreios de raças predispsotas

Mesmo perante uma radiografia aparentemente normal ou pouco conclusiva, a persistência de sinais clínicos compatíveis com cardiopatia deve motivar a continuidade da investigação. Nestes casos, o recurso à consulta de cardiologia permite não apenas confirmar ou excluir alterações estruturais, mas também avaliar a função cardíaca em tempo real, identificar arritmias e orientar o tratamento mais adequado.

Diagnóstico especializado: para além da radiografia

Para uma abordagem completa, a avaliação cardíaca deve incluir:

Ecocardiografia – avaliação anatómica e funcional detalhada do coração
Eletrocardiograma (ECG) – deteção de arritmias e distúrbios de condução

E em alguns casos pode ainda ser necessário:

Monitorização Holter – análise de ritmo durante 24horasl
Pressão arterial – especialmente relevante em gatos ou cães com doença grave

A integração de exames complementares é especialmente relevante em cães pertencentes a raças com predisposição genética para cardiopatias. Nestes casos, confiar apenas na radiografia ou em parâmetros como a VHS pode atrasar o diagnóstico e tratamento e comprometer o prognóstico . Os programas de rastreio e check-ups regulares com avaliação cardíaca avançada são fundamentais para garantir um seguimento rigoroso e atempado destes pacientes.

Rastreios em raças predispostas

A predisposição genética para determinadas doenças cardíacas em cães é um fator crucial na medicina preventiva. Mesmo na ausência de sintomas, estas raças podem desenvolver alterações cardíacas estruturais ou funcionais em fases subclínicas, que passam despercebidas na avaliação radiográfica. A realização de rastreios cardíacos específicos permite a deteção precoce, monitorização e atuação atempada, contribuindo para um prognóstico mais favorável e para decisões terapêuticas individualizadas.

O rastreio proativo é essencial em raças com risco elevado:

Doberman, Boxer, Dogue Alemão, Terra-nova  – Cardiomiopatia dilatada
Cavalier King Charles Spaniel, Cocker Spaniel – Doença mitral degenerativa
Boxers – Cardiomiopatia arritmogénica do ventrículo direito (ARVC)

Conclusão sobre as limitações do VHS em cães

A VHS é uma ferramenta útil no rastreio, mas insuficiente por si só. A integração com exames mais completos, como a ecocardiografia, permite diagnósticos mais precoces e precisos. Sempre que houver dúvida, referenciar para uma consulta de cardiologia garante uma abordagem mais segura, eficiente e personalizada aos seus pacientes.

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